Reprovação massiva em concurso público: silêncio ou alerta?

Reprovação massiva em concurso público: silêncio ou alerta?

A reprovação massiva não diz nada sobre você. Talvez sobre o concurso. Siga firme.

Desde 2021, venho acompanhando de perto os concursos públicos, especialmente aqueles voltados ao Ministério Público. Ao longo desses anos, observei certames considerados dos mais difíceis do país — provas desafiadoras, bancas exigentes, critérios rigorosos. Em todos esses concursos, por mais árduos que fossem, sempre houve candidatos aprovados. É parte da lógica do mérito: mesmo diante da dificuldade, espera-se que ao menos alguns consigam atravessar a linha de chegada.

Concurso para Promotor de Justiça do MPMS

O que ocorreu no recente concurso para Promotor de Justiça Substituto do Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul (MPMS), porém, foge completamente a essa lógica. Dos 180 candidatos que prestaram a segunda etapa — composta por 7 provas escritas de caráter eliminatório — nenhum foi aprovado para a fase seguinte.

Nenhum.

Esse número, por si só, já é alarmante. Mas ele se torna ainda mais grave quando analisamos a estrutura da prova.

Os candidatos que chegaram à segunda fase já haviam enfrentado uma primeira etapa seletiva extremamente exigente. Passaram por uma triagem rigorosa e demonstraram conhecimento suficiente para serem considerados aptos a seguir no certame.

São pessoas que investiram anos de estudo, recursos financeiros, apoio familiar, renúncias pessoais. Enfrentaram, agora, uma verdadeira maratona de provas escritas, em que se exigia desempenho mínimo de 5,0 em cada grupo temático e média geral mínima de 6,0 pontos para avançar.

As disciplinas foram organizadas da seguinte forma:

  • Grupo I: Direito Constitucional e Direitos Humanos
  • Grupo II: Direito Penal
  • Grupo III: Direito Processual Penal
  • Grupo IV: Direito Civil
  • Grupo V: Direito Processual Civil
  • Grupo VI: Tutela de Interesses Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos
  • Grupo VII: Direito Administrativo, Financeiro, Tributário, Eleitoral e Direito Institucional do Ministério Público

Cada prova, com duração de 4 horas, exigia não só profundo domínio técnico, mas também preparo físico e mental para sustentar o ritmo dessa bateria densa e prolongada. E, ao final, o resultado divulgado foi o mais duro possível: nenhum dos 180 candidatos atingiu a média geral exigida.

Rigor das provas

Diante disso, surge a pergunta inevitável: será mesmo possível que, em um universo de 180 candidatos já aprovados na fase objetiva, não exista um sequer com aptidão técnica para exercer o cargo de Promotor de Justiça? Estaríamos diante de uma geração inteira de profissionais despreparados — ou estaríamos diante de um erro de calibração da banca?

Estamos certos de que tanto a banca, quanto a Instituição são e estão muito bem-intencionados. Mas o resultado nos põe a pensar (muito RESPEITOSAMENTE, É CLARO!) sobre a proporcionalidade dos critérios de correção. Um certame sem aprovados não é, necessariamente, um sinônimo de qualidade.

Reprovação massiva

É evidente que a banca examinadora deve manter um grau elevado de rigor ao selecionar candidatos para o Ministério Público — uma carreira que exige responsabilidade ímpar, forte visibilidade institucional, preparo técnico refinado e compromisso ético constante. Nesse sentido, a exigência de uma prova difícil se justifica: trata-se de uma forma legítima de aferir a aptidão para o exercício de atribuições tão relevantes e complexas.

Entretanto, o rigor não pode se tornar um obstáculo implacável que, em vez de selecionar os mais preparados, exclui até mesmo os vocacionados. Um excesso de cobrança pode acabar por desvirtuar a finalidade do concurso: não mais identificar talentos, mas sim desestimular sonhos. O impacto disso é silencioso, porém profundo — vocações interrompidas, candidatos que se julgam despreparados quando, na verdade, apenas enfrentaram um modelo excessivamente rigoroso.

É indispensável encontrar um ponto de equilíbrio: um critério avaliativo exigente, sim, mas justo; que eleja os mais capacitados com base em uma régua adequada e coerente com a realidade da preparação jurídica brasileira.

Resiliência

Expressamos aqui nossa solidariedade a todos os candidatos que enfrentaram essa etapa. Sabemos o quanto custa chegar até ali: são horas diárias de estudo, cursos preparatórios caros, apoio emocional de familiares, renúncias pessoais, cansaço acumulado. O projeto de vida de muitos gira em torno desse sonho. A reprovação massiva não é apenas um dado estatístico: é também uma frustração, que precisa ser acolhida com respeito e empatia.

Ao mesmo tempo, é preciso dizer — com toda a ênfase — que essa derrota momentânea não define ninguém. A reprovação num concurso, ainda que dolorosa, é apenas um episódio em uma longa trajetória. As carreiras jurídicas são caminhos de persistência, resiliência e reinvenção. Já vimos muitos profissionais brilhantes, hoje membros destacados das variadas carreiras jurídicas, que foram reprovados diversas vezes antes de sua nomeação. Não desistiram. Ajustaram rotas. Aprenderam com a dor. E seguiram.

Aos que se sentem abatidos, nossa mensagem é clara: sigam firmes em seus propósitos. Não permitam que esse revés os afaste da vocação que carregam. Portanto, usem essa experiência como instrumento de crescimento. Busquem justiça.


Quer saber quais serão os próximos concursos?

Confira nossos artigos para Carreiras Jurídicas!
0 Shares:
Você pode gostar também