Hoje, vamos conhecer um pouco a respeito da súmula 669 do STJ, aprovada em junho de 2024. Daremos enfoque aos temas mais cobrados na área dos concursos de carreira jurídica.
Vamos lá!
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1. Súmula 669 do STJ: redação
O STJ, recentemente, editou a seguinte súmula:
Súmula 669 – O fornecimento de bebida alcoólica a criança ou adolescente, após o advento da Lei n. 13.106, de 17 de março de 2015, configura o crime previsto no art. 243 do ECA. |
Como se vê, a súmula 669 do STJ trata a respeito do crime de fornecimento de bebida alcoólica a menor de idade.
Vejamos, adiante, algumas peculiaridades acerca da nova súmula sufragada pelo STJ, bem como alguns assuntos correlatos ao tema.
2. Súmula 669 do STJ: histórico
Para a melhor compreensão da súmula 669 do STJ, faz-se necessário o conhecimento acerca do histórico legislativo da norma inserta no art. 243 do ECA.
2.1. Antes da Lei 13.106/15
A Lei n° 13.106/15 inseriu importantes mudanças no art. 243 do ECA. Vejamos a comparação entre a redação antiga e a atual do artigo em comento:
ANTES da Lei 13.106/15 | APÓS a Lei 13.106/15 |
Art. 243, ECA – Vender, fornecer ainda que gratuitamente, ministrar ou entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente, sem justa causa, produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica, ainda que por utilização indevida: | Art. 243, ECA – Vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar, ainda que gratuitamente, de qualquer forma, a criança ou a adolescente, bebida alcoólica ou, sem justa causa, outros produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica: |
Como visto, não havia menção expressa ao termo “bebida alcoólica” na redação antiga do art. 243 do ECA, mas apenas a “produtos cujos componentes possam causar dependência física“, o que gerava dúvidas acerca da tipificação da conduta. (súmula 669 do STJ).
Neste contexto, o STJ compreendia que o art. 243 do ECA não abrangia as bebidas alcoólicas, já que quando o Estatuto quis englobar o termo, ele fez menção expressa a ele. É o que se verifica no art. 81 do ECA, no qual o termo “bebidas alcoólicas” foi destacado e regulamentado em separado dos produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica. Vejamos:
Art. 81. É proibida a venda à criança ou ao adolescente de: II – bebidas alcoólicas; III – produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica ainda que por utilização indevida; |
Sendo assim, o STJ entendia que aquele que fornecesse bebida alcoólica a criança ou adolescente estaria incorrendo na contravenção penal prevista no art. 63, I do Decreto-Lei 3.688/41 (Lei de Contravenções Penais):
Art. 63 – Servir bebidas alcoólicas: I – a menor de dezoito anos; |
Fundamentos complementares
Ademais, ainda era possível elencar os seguintes fundamentos para corroborar a decisão:
- não é possível o uso da analogia in malam partem no direito penal;
- deve prevalecer o princípio da legalidade (não há crime sem lei que o defina), bem como o princípio da taxatividade (a lei penal deve ser clara e precisa);
- deve-se fazer uso da interpretação sistemática (considerando o ordenamento jurídico como um todo) para a adequada tipificação da conduta delituosa.
Jurisprudência do STJ (súmula 669 do STJ)
Nesse sentido, assim entendia o STJ (HC 167659) no contexto da redação originária do art. 243 do ECA e, consequentemente, antes da edição da súmula 669 do STJ:
ENTREGA DE BEBIDA A MENOR. TIPIFICAÇÃO. CONTRAVENÇÃO PENAL OU ART. 243 DO ECA. INTERPRETAÇÃO SISTEMÁTICA DOS ARTS. 243 E 81 DO ECA. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE PENAL. ENQUADRAMENTO: ART. 63 DA LCP. A entrega a consumo de bebida alcoólica a menores é comportamento deveras reprovável. No entanto, é imperioso, para o escorreito enquadramento típico, que se respeite a pedra angular do Direito Penal, o princípio da legalidade. Nesse cenário, em prestígio à interpretação sistemática, levando em conta os arts. 243 e 81 do ECA, e o art. 63 da Lei de Contravenções Penais, de rigor é o reconhecimento de que neste último comando enquadra-se o comportamento em foco. |
2.2. Após a lei 13.106/15
Ainda na análise da súmula 669 do STJ, com a Lei 13.106/2015, ocorreram as seguintes mudanças no ordenamento jurídico:
- previsão expressa do termo “bebida alcoólica” no art. 243 do ECA e, consequentemente, a guinada do fato típico para crime;
- revogação tácita da contravenção penal do art. 63, I do Decreto-Lei 3.688/41.
Como se nota, a Lei 13.106/15 pacificou um tema de grandes discussões na doutrina e na jurisprudência.
Com efeito, o STJ alterou seu entendimento e sustentou que a conduta daquele que oferece bebida alcoólica a criança ou adolescente configura o crime previsto no art. 243 do ECA.
No mais, a súmula 669 do STJ apenas deixou claro esse novo entendimento retirado da nova redação dada ao art. 243 do ECA e destacado pela própria Corte Superior após a edição da Lei 13.106/15.
3. Súmula 669 do STJ: art. 243 do ECA
Ainda no estudo da súmula 669 do STJ, vale a pena analisar a estrutura e os elementos do crime objeto do entendimento sumular: art. 243 do ECA.
3.1. Redação
Vamos conferir novamente a redação atual dada ao art. 243 do ECA:
Art. 243, ECA – Vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar, ainda que gratuitamente, de qualquer forma, a criança ou a adolescente, bebida alcoólica ou, sem justa causa, outros produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica: Pena – detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, se o fato não constitui crime mais grave. |
3.2. Bem jurídico
O bem jurídico protegido pelo tipo penal é a saúde física e psíquica das crianças e dos adolescentes.
3.3. Sujeito ativo
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, já que o tipo penal não reclama nenhuma qualidade especial do agente. Trata-se, portanto, de crime comum.
3.4. Sujeito passivo
O sujeito passivo deve ser uma:
- Criança: até 12 anos incompletos;
- Adolescente: entre 12 e 18 anos incompletos.
Conforme o ECA:
Art. 2º – Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade. |
3.5. Tipo objetivo (súmula 669 do STJ)
O crime pode ser praticado através das seguintes condutas, ainda que gratuitamente:
- vender: comercializar;
- fornecer: proporcionar, dar;
- servir: oferecer;
- ministrar: aplicar;
- entregar: dar.
Tais condutas são praticadas para direcionar a criança ou o adolescente a:
- bebida alcoólica: contém álcool etílico em sua composição; ou
- outros produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica: ex.: cola de sapateiro.
Há ainda um elemento normativo no tipo penal:
- sem justa causa: é necessário que a conduta seja praticada sem que haja um justo motivo para tanto. Caso a conduta do agente esteja amparada por justificação legítima, não haverá razão para a incidência do Direito Penal.
Vejamos o seguinte exemplo:
O médico ministra, em criança ou adolescente, medicamento que pode causar dependência física e psíquica, porém a medicação é comprovadamente necessária para tratar a enfermidade do infante. |
3.6. Elemento subjetivo
O elemento subjetivo – que consiste no estado anímico do agente ao praticar a conduta – é o dolo genérico, seja ele direto ou eventual. Assim, basta que o sujeito ativo tenha vontade livre e consciente para a prática dos verbos previstos no tipo penal.
Não se exige a presença de dolo específico – que consiste em um fim especial de agir.
Além do mais, não é cabível a prática do crime na modalidade culposa. No Direito Penal, somente é admissível a punição por crime culposo quando assim previsto de forma expressa na lei (art. 18, p. único, do CP), o que não se verifica na infração penal em estudo.
3.7. Consumação e tentativa
Em relação à consumação, a infração penal prevista no art. 243 do ECA configura:
- crime formal: independe da ocorrência de resultado naturalístico para a consumação. Portanto, o crime se consuma com a prática de qualquer uma de suas condutas, não sendo necessária a ingestão de bebida alcoólica ou derivados.
- tipo misto alternativo: o crime se consuma com a prática de qualquer uma das condutas, não sendo exigível a realização de todas para a consumação do delito. Por ser um tipo misto alternativo, a prática de mais de uma conduta no mesmo contexto fático e contra a mesma vítima configura crime único.
- crime de perigo: não é preciso a ocorrência de dano efetivo, bastando a mera ameaça de lesão ao bem jurídico tutelado. Portanto, não é necessário dano efetivo à saúde física e psíquica do infante.
Por outro lado, a tentativa é perfeitamente cabível. Vejamos o seguinte exemplo:
Alberto, dono de uma mercearia, no momento em que estava tentando vender bebida alcoólica para Bruno (12 anos), foi impedido pela polícia. |
3.8. Crime subsidiário (súmula 669 do STJ)
Trata-se de crime subsidiário, de modo que o agente somente responderá pela infração caso a sua conduta não configure crime mais grave.
O preceito secundário do tipo penal trouxe a chamada subsidiariedade expressa do crime:
Art. 243 (…) Pena – detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, se o fato não constitui crime mais grave. |
Vejamos o seguinte exemplo:
Alberto, conhecido traficante na comunidade, oferece maconha para um adolescente. Nesse caso, Alberto irá responder pelo crime de tráfico de drogas (art. 33 c/c art. 40, VI, da Lei 11.343/06), por configurar crime mais grave. |
Conclusão
Hoje, vimos um pouco a respeito da súmula 669 do STJ, em especial acerca de sua extensão e características principais.
Por ora, finalizamos mais um tema empolgante para os que almejam a sonhada carreira jurídica.
Advertimos que esse artigo, juntamente com as questões do Sistema de Questões do Estratégia Carreira Jurídica, serve como complemento ao estudo do tema proposto, devendo-se priorizar o material teórico, em PDF ou videoaula, do curso.
Até a próxima!
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