Olá, tudo bem? Hoje falaremos um pouco sobre o reconhecimento de Tempo de trabalho rural anterior aos 12 anos, destacando a jurisprudência do STJ (Superior Tribunal de Justiça) em relação ao tema.
Trata-se de assunto de grande relevância no estudo do Direito Previdenciário, sobretudo quando voltado às questões práticas, mas também com possibilidade de cobrança em provas de concursos públicos.
Vamos ao que interessa!
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Índice
Tempo de trabalho rural anterior aos 12 anos
Trabalho rural e segurado especial
Quando falamos em trabalho rural no âmbito do Direito Previdenciário, podemos nos referir tanto aos segurados empregados e contribuintes individuais, que podem trabalhar para pessoa física ou jurídica, quanto aos segurados especiais.
Isso porque, nos termos do artigo 11, inciso I, alínea “a”, da Lei 8.213/1991, consideram-se segurados empregados aquele que presta serviço de natureza urbana ou rural à empresa, em caráter não eventual, sob sua subordinação e mediante remuneração, inclusive como diretor empregado.
Por sua vez, o inciso V, alínea “g”, considera como contribuinte individual quem presta serviço de natureza urbana ou rural, em caráter eventual, a uma ou mais empresas, sem relação de emprego.
Já o inciso VII do mesmo dispositivo considera como segurado especial a pessoa física residente no imóvel rural ou em aglomerado urbano ou rural próximo a ele que, individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que com o auxílio eventual de terceiros, trabalha na condição de produtor rural, pescador artesanal, nos termos da Lei.
Portanto, vemos que, ao desempenhar atividade rural, nem sempre o enquadramento do segurado em uma das categorias é tão claro, devendo ser avaliadas as circunstâncias do caso concreto.
Idade mínima para o trabalho
De acordo com a Constituição Federal, é proibido qualquer trabalho a menores de 16 anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de 14 anos de idade (artigo 7º, inciso XXXIII).
Esse mesmo dispositivo proíbe a menores de 18 anos, sem exceções, qualquer trabalho noturno, perigoso ou insalubre.
No mesmo sentido dispõem os artigos 403 e 404 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT):
Art. 403. É proibido qualquer trabalho a menores de dezesseis anos de idade, salvo na condição de aprendiz, a partir dos quatorze anos.
Parágrafo único. O trabalho do menor não poderá ser realizado em locais prejudiciais à sua formação, ao seu desenvolvimento físico, psíquico, moral e social e em horários e locais que não permitam a freqüência à escola.
Art. 404 – Ao menor de 18 (dezoito) anos é vedado o trabalho noturno, considerado este o que for executado no período compreendido entre as 22 (vinte e duas) e as 5 (cinco) horas.
No entanto, como conhecedores da realidade brasileira, sabemos que muitas vezes, principalmente em famílias que vivem em regiões rurais, há a utilização dos filhos (crianças e adolescentes) para desenvolvimento do labor.
Vamos ver se esse tempo trabalhado por crianças e adolescentes pode ser contabilizado para fins previdenciários, especialmente no que se refere ao tempo rural anterior aos 12 anos.
Entendimento do STJ sobre o tema
Chegou até o Superior Tribunal de Justiça o AgInt no AREsp 956558/SP, no qual se discutia a possibilidade de reconhecimento excepcional de cômputo do labor de menor de 12 anos de idade, para fins previdenciários.
Para o STJ, embora o artigo 7º, inciso XXXIII, da CF, que comentamos acima, imponha um limite etário para o labor, essa restrição etária NÃO impede que se reconheça, em condições especiais, o tempo de serviço de trabalho rural efetivamente prestado pelo menor.
Esse pensamento reside no fato de que não se pode punir o menor duas vezes, isso é, tanto com o labor prestado em sua infância quanto com a não contabilização desse tempo de serviço.
Para o STJ, em virtude da natureza da questão envolvida, deve-se analisar a questão sob a influência do pensamento garantístico, de modo a que o julgamento da causa reflita e espelhe o entendimento jurídico que confere maior proteção e mais eficaz tutela dos direitos subjetivos dos hipossuficientes.
Dessa forma, a Corte Superior reiterou seu entendimento no sentido de que os menores de idade não podem ser prejudicados em seus direitos trabalhistas e previdenciários, quando comprovado o exercício de atividade laboral na infância.
Portanto, a conclusão do STJ foi a de que:
Desta feita, NÃO é admissível desconsiderar a atividade rural exercida por uma criança impelida a trabalhar antes mesmo dos seus 12 anos, sob pena de punir duplamente o Trabalhador, que teve a infância sacrificada por conta do trabalho na lide rural e que não poderia ter tal tempo aproveitado no momento da concessão de sua aposentadoria. Interpretação em sentido contrário seria infringente do propósito inspirador da regra de proteção.
Sendo assim, como o caso concreto que deu origem ao AgInt no AREsp 956558/SP tratava-se de segurado que exerceu atividade campesina desde a infância até 1978, o STJ entendeu incorreta a limitação do reconhecimento do serviço apenas após o implemento dos 14 anos de idade (1969).
Arrematando tudo o que foi dito, vamos transcrever o item 7 da ementa desse julgado:
7. Há rigor, não há que se estabelecer uma idade mínima para o reconhecimento de labor exercido por crianças e adolescentes, impondo-se ao julgador analisar em cada caso concreto as provas acerca da alegada atividade rural, estabelecendo o seu termo inicial de acordo com a realidade dos autos e não em um limite mínimo de idade abstratamente pré-estabelecido. Reafirma-se que o trabalho da criança e do adolescente deve ser reprimido com energia inflexível, não se admitindo exceção que o justifique; no entanto, uma vez prestado o labor o respectivo tempo deve ser computado, sendo esse cômputo o mínimo que se pode fazer para mitigar o prejuízo sofrido pelo infante, mas isso sem exonerar o empregador das punições legais a que se expõe quem emprega ou explora o trabalho de menores.
Conclusão
Portanto, pessoal, essa foi nossa análise sobre o reconhecimento de Tempo de trabalho rural anterior aos 12 anos, destacando a jurisprudência do STJ em relação ao tema.
Considerando que não esgotamos aqui a temática, não deixe de revisar em seu material de estudo e praticar com diversas questões.
Até a próxima!
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