Prova comentada Português Concurso DPE RS Defensor

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Olá, pessoal, tudo certo?!

Em 27/04/2025, foi aplicada a prova objetiva do concurso público para a Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do Sul. Assim que divulgados o caderno de provas e o gabarito preliminar oficial, nosso time de professores analisou cada uma das questões que agora serão apresentadas em nossa PROVA COMENTADA.

Este material visa a auxiliá-los na aferição das notas, elaboração de eventuais recursos, verificação das chances de avanço para fase discursiva, bem como na revisão do conteúdo cobrado no certame.

Desde já, destacamos que nosso time de professores identificou 2 questões passíveis de recurso e/ou que deve ser anulada, por apresentar duas alternativas corretas, como veremos adiante. No tipo de prova comentado, trata-se das questões 57 e 80.

De modo complementar, elaboramos também o Ranking da DPE-RS em que nossos alunos e seguidores poderão inserir suas respostas à prova, e, ao final, aferir sua nota, de acordo com o gabarito elaborado por nossos professores. Através do ranking, também poderemos estimar a nota de corte da 1º fase. Essa ferramenta é gratuita e, para participar, basta clicar no link abaixo:

Ranking DPE RS Defensor

Além disso, montamos um caderno para nossos seguidores, alunos ou não, verem os comentários e comentar as questões da prova:

Caderno de prova para seguidores

Por fim, comentaremos a prova, as questões mais polêmicas, as possibilidades de recurso, bem como a estimativa da nota de corte no TERMÔMETRO PÓS-PROVA, no nosso canal do Youtube. Inscreva-se e ative as notificações!

Estratégia Carreira Jurídica – YouTube

Esperamos que gostem do material e de todos os novos projetos que preparamos para que avancem rumo à aprovação.

Contem sempre conosco.
Yasmin Ushara,
Coordenação de Rodadas do Estratégia Carreiras Jurídicas.

Confira a prova comentada de todas as disciplinas

Considere o texto abaixo para responder às questões de números 1 a 6.

Os mitos existem para esconder a realidade. Por isso mesmo, eles revelam a realidade íntima de uma sociedade ou de uma civilização. Como se poderia, no Brasil colonial ou imperial, acreditar que a escravidão seria, aqui, por causa de nossa “índole cristã”, mais humana, suave e dócil que em outros lugares? Ou, então, propagava-se, no ocaso do século XIX no próprio país no qual o partido republicano preparava-se para trair simultaneamente a ideologia e a utopia republicanas, aliando-se aos interesses dos fazendeiros contra os escravos, que a ordem social nascente seria democrática? Por fim, como ficar indiferente ao drama humano intrínseco à Abolição, que largou a massa dos ex-escravos, dos libertos e das ingênuas à própria sorte, como se fossem um simples bagaço do antigo sistema de produção?

Entretanto, a ideia da democracia racial não só se aninhou. Ela se tornou um mores, como dizem alguns sociólogos, algo intocável, a pedra de toque da “contribuição brasileira” ao progresso civilizatório da Humanidade.            

Ora, a revolução social vinculada à desagregação da produção escravista e da ordem social correspondente não se fazia para toda a sociedade brasileira. Seus limites históricos eram fechados, embora seus dinamismos históricos fossem abertos e duráveis. Naqueles limites, não cabiam nem o escravo e o liberto, nem o negro ou o branco pobre como categorias sociais. Tratava-se de uma revolução das elites, pelas elites e para as elites, no plano racial, de uma revolução do BRANCO para o BRANCO, ainda que se tenha de entender essa noção em sentido etnológico e sociológico.

Colocando-se a ideia de democracia racial dentro desse vasto pano de fundo, ela expressa algo muito claro: um meio de evasão dos estamentos dominantes de uma classe social diante de obrigações e responsabilidades intransferíveis e inarredáveis. Daí a necessidade do mito. A falsa consciência oculta a realidade e simplifica as coisas. Todo o complexo de padrões de comportamento e valores de uma ordem social arcaica podia manter-se intacto, em proveito dos estamentos dominantes da raça branca, embora em prejuízo fatal da nação.

As elites e as classes privilegiadas não precisavam levar a revolução social à esfera das relações raciais, na qual a democracia germinaria espontaneamente.

(Adaptado de: FERNANDES, Florestan. Um mito revelado. In: Significado do protesto negro. São Paulo: Cortez Editora, 1989, p. 13-14)

QUESTÃO 01. Para a coerente leitura do texto, uma noção adequada de mito é a que o considera

a) representação arquetípica de fatos ou personagens históricos, amplificados pelo imaginário coletivo.

b) narrativa atemporal e a-histórica que fornece orientação ética para ações humanas.

c) narrativa fantástica com o objetivo de explicar a existência do que foge ao alcance da racionalidade.

d) representação fictícia de um acontecimento, com vistas a justificar as condutas adotadas.

e) enredo de caráter alegórico, com a pretensão de justificar costumes e tradições.

Comentários

A alternativa correta é a letra D. A questão aborda interpretação de texto.

A alternativa A está incorreta. O texto não trata o mito como um arquétipo, tampouco como algo ligado a personagens históricos ou ao imaginário coletivo. O texto trata o mito como um instrumento social utilizado para esconder a realidade.

A alternativa B está incorreta. Segundo o texto, o mito não fornece orientação ética para a ação humana, pelo contrário, o autor ressalta o mito como historicamente situado – no caso, no Brasil pós-escravidão –, usado para ocultar a realidade social e evitar obrigações com a população negra.

A alternativa C está incorreta. Essa definição diz respeito ao sentido cosmogônico ou religioso, como nas mitologias gregas ou indígenas. No texto, o mito é visto como um instrumento criado pelas elites para justificar desigualdades raciais.

A alternativa D está correta. Conforme o texto: “Os mitos existem para esconder a realidade. Por isso mesmo, eles revelam a realidade íntima de uma sociedade ou de uma civilização. […] Daí a necessidade do mito. A falsa consciência oculta a realidade e simplifica as coisas.”

A alternativa E está incorreta. O mito não é tratado como alegoria literária no texto. Na verdade, é visto como um instrumento social de ocultação da realidade.

QUESTÃO 02. A partir da noção de mito, procura-se esclarecer

a) sua influência em relação aos agentes políticos de então, como o partido republicano e as elites, uma vez que a “democracia racial” impede qualquer ação reparatória de sua parte.

b) como a complexidade da narrativa falseia uma realidade bastante clara, levando as elites à inação política, característica presente até hoje nas classes dominantes do país.

c) como se engendraram princípios definidores da igualdade de raças, que passaram a consolidar um traço distintivo da realidade social brasileira.

d) a diferença entre categorias como negro e branco pobre, realidades falsamente confundidas sob a aparência de igualdade racial até os dias de hoje.

e) sua motivação, na busca por preservar os privilégios e a imagem harmônica da elite política e econômica, atribuindo aos libertos a total responsabilidade por seu futuro.

Comentários

A alternativa correta é a letra E. A questão aborda interpretação de texto.

A alternativa A está incorreta. O texto não diz que a democracia racial impediu ações reparatórias. Na verdade, o texto trata da utilização do mito para ocultar as desigualdades.

A alternativa B está incorreta. Não há complexidade na narrativa falseada, e sim uma simplificação, conforme o texto: “(…) A falsa consciência oculta a realidade e simplifica as coisas (…)”. Além disso, o texto não menciona que essa característica está presente até o dia de hoje, uma vez que trata somente de uma análise histórica sobre o tema da desigualdade racial.

A alternativa C está incorreta. O texto não diz que houve a consolidação da igualdade racial, na verdade há um mito que oculta a desigualdade existente.

A alternativa D está incorreta. O mito não é tratado como instrumento de classificação social no texto. Realmente, há menção das diferenças entre categorias como negro e branco pobre, todavia esse não é o esclarecimento buscado ao se fazer a definição de mito no texto, por isso não responde a questão.

A alternativa E está correta. O texto afirma que o mito representou a fuga das responsabilidades sociais por parte das elites. Segundo o texto: “Colocando-se a ideia de democracia racial dentro desse vasto pano de fundo, ela expressa algo muito claro: um meio de evasão dos estamentos dominantes de uma classe social diante de obrigações e responsabilidades intransferíveis e inarredáveis.”

QUESTÃO 03. A frase “As elites e as classes privilegiadas não precisavam levar a revolução social à esfera das relações raciais, na qual a democracia germinaria espontaneamente…” (último parágrafo), em consonância com o texto,

a) fornece uma explicação para os desdobramentos sociais da abolição, pautada pela crença na utopia social e pelos ideais democráticos do partido republicano.

b) expressa um desdobramento natural do mito, segundo seus próprios idealizadores, diversamente da opinião do autor do texto, o que se evidencia com o tempo verbal de “germinaria”.

c) refere, em caráter hipotético, com o verbo “germinaria” no futuro do pretérito, às expectativas em relação à abolição da escravatura, que por si só desencadearia o processo democrático.

d) reflete como um traço da cultura brasileira daria origem, independentemente da movimentação das elites, à democracia racial.

e) mostra como a estratificação social tenderia a diminuir naturalmente, a despeito de políticas de reparação histórica, por um mecanismo de autorregulação característico de nossa realidade.

Comentários

A alternativa correta é a letra B. A questão aborda interpretação de texto.

A alternativa A está incorreta. O trecho, na verdade, traz uma crítica à inércia elitista e à crença ilusória de democracia espontânea, não se tratando de utopia social, e sim de uma irresponsabilidade social da elite. Outrossim, o texto aduz que o partido republicano traiu o próprio ideal democrático ao apoiar a ideia da democracia espontânea. 

A alternativa B está correta. O mito abordado no texto afirma que a democracia racial iria se instalar automaticamente, sem a necessidade de influência das elites e classes privilegiadas. Essa crença tirou a responsabilidade sobre a desigualdade racial. Ou seja, segundo os seus idealizadores (elites e classes privilegiadas), não precisaria de interferência para que a democracia racial fosse instalada, pois seria um desdobramento natural. Não é essa, porém, a opinião do autor do texto, que identifica isso como uma verdadeira fuga de responsabilidade social. Ademais, o verbo “germinaria” no futuro do pretérito indica que uma ação que seria realizada no futuro em relação a um ponto de referência passado, mas não chegou a acontecer, como no caso do texto, em que a democracia racial não aconteceu espontaneamente como as elites quiseram fazer acreditar.

A alternativa C está incorreta. Na verdade, segundo o texto, o mito de que a abolição da escravatura, por si só, desencadearia o processo democrático era uma farsa para fugir da responsabilidade social pela democracia racial e não uma expectativa de isso realmente pudesse ocorrer.

A alternativa D está incorreta. O trecho não defende que cultura brasileira daria origem à democracia racial. Pelo contrário, critica essa ideia, afirmando que ela é ilusória.

A alternativa E está incorreta. Essa não é a ideia defendida no trecho. Na verdade, o texto afasta totalmente a ideia de que existe um mecanismo natural de autorregulação que resolveria desigualdades.

QUESTÃO 04. Considere as seguintes afirmações acerca do 2º parágrafo:

I. O trecho “…não só se alargou. Ela se tornou…” manteria a coerência e a correção se escrito “não apenas se alargou. Como também se tornou.”

II. As aspas em “contribuição brasileira” prestam-se a demarcar uma opinião não compartilhada pelo autor, à semelhança do que ocorre com “índole afável” (1º parágrafo).

III. Em “Ela se tornou um mores, como dizem alguns sociólogos…”, a vírgula pode ser substituída por dois-pontos, pois a ela se segue uma explicação do que o autor entende por “mores”.

Está correto o que consta de:

a) I e II apenas.

b) I apenas.

c) I, II e III.

d) II e III apenas.

e) I e III apenas.

Comentários

A alternativa correta é a letra A. A questão exige uma análise gramatical e interpretativa do 2º parágrafo do texto, com foco na reescrita com paralelismo sintático e coesão, uso de aspas como recurso de distanciamento crítico e pontuação.

O item I está correto, uma vez que substitui a expressão “não apenas” por “não só… mas também”, equivalente do ponto de vista sintático e semântico, como ideia aditiva. O item II também está correto, pois as aspas de fato indicam que o autor se distancia das ideias de que haveria uma índole ou uma contribuição brasileira que levariam à democracia racial, sem interferência das elites, tratando-se de um distanciamento crítico do autor em relação à ideia expressa. Por outro lado, o item III está incorreto, pois não é possível substituir a vírgula por dois pontos nesse caso, tendo em vista que o trecho “(…) como dizem alguns sociólogos (…)” se refere a uma intercalação e não a uma explicação.

QUESTÃO 05. Com as devidas alterações, o trecho “Daí a necessidade do mito. A falsa consciência oculta a realidade e simplifica as coisas. Todo o complexo de privilégios, padrões de comportamento e valores de uma ordem social arcaica podia manter-se…” compõe um único período, mantendo a coerência e, em linhas gerais, o sentido original, em:

a) Daí a necessidade do mito, ainda que a falsa consciência oculte a realidade e simplifique as coisas, enquanto todo o complexo de privilégios, padrões de comportamento e valores de uma ordem social arcaica pudesse manter-se intacto…

b) Daí a necessidade do mito, de tal modo que a falsa consciência oculte a realidade e simplifique as coisas, uma vez que todo o complexo de privilégios, padrões de comportamento e valores de uma ordem social arcaica podia manter-se intacto…

c) Daí a necessidade do mito, porquanto a falsa consciência oculta a realidade e simplifica as coisas, de maneira que todo o complexo de privilégios, padrões de comportamento e valores de uma ordem social arcaica podia manter-se intacto…

d) Daí a necessidade do mito, conquanto a falsa consciência oculte a realidade e simplifique as coisas, porquanto todo o complexo de privilégios, padrões de comportamento e valores de uma ordem social arcaica podia manter-se intacto…

e) Daí a necessidade do mito, para que a falsa consciência oculte a realidade e simplifique as coisas, embora todo o complexo de privilégios, padrões de comportamento e valores de uma ordem social arcaica pudesse manter-se intacto…

Comentários

A alternativa correta é a letra C. A questão exige a reescrita de período composto com manutenção da coerência textual e das relações de sentido.

A alternativa A está incorreta. O termo “enquanto” apresentou uma quebra lógica no sentido do texto.

A alternativa B está incorreta. A expressão “de tal modo que” traz uma relação causal inexistente no sentido do trecho.

A alternativa C está correta. O uso do “porquanto” tem relação causal, de modo que se adequa a relação entre as frases, uma vez que “a necessidade do mito” se justifica na falsa consciência que oculta a realidade e simplifica as coisas. Ademais, a expressão “de maneira que” tem valor consecutivo e também se adequa a relação entre as frases, visto que como consequência do uso do mito, segundo o autor, “todo o complexo de privilégios, padrões de comportamento e valores de uma ordem social arcaica podia manter-se intacto.”

A alternativa D está incorreta. A expressão “conquanto” altera o sentido do trecho, pois tem sentido concessivo.

A alternativa E está incorreta. A expressão “para que” altera o sentido do trecho, pois tem sentido de finalidade.

QUESTÃO 06. Está coerente e gramaticalmente correta a seguinte frase:

a) Por fim, aos negros libertos não se davam o subsídio a que veio favorecer o trabalhador branco estrangeiro, como seria de esperar-se com a abolição da escravatura.

b) Cabem às camadas populares revitalizar a demanda, para que ao Brasil se abandone a mentalidade do século XIX.

c) Exige séria reflexão política a tenacidade do mito e a importância de suas funções para a estabilidade da ordem.

d) Logo, descobriu-se que a imigração à disposição dos fazendeiros e do crescimento econômico punham reservas de mão de obra, a custos baixos.

e) Existia, por um lado, um dilema que, por outro, era uma área sombria – dos quais, assim, enfrentar-se-ia as mazelas do trabalho produtivo.

Comentários

A alternativa correta é a letra C. A questão exige o julgamento da frase que esteja coerente e gramaticalmente correta.

A alternativa A está incorreta. O verbo “davam” está no plural, mas o objeto direto “o subsídio” está no singular, o correto seria: “não se dava o subsídio”.

A alternativa B está incorreta.  A expressão “ao Brasil se abandone” está incorreto, seria mais adequado “para que o Brasil abandone”. A redação do trecho não está clara e dificulta a compreensão da frase.

A alternativa C está correta. A frase está coerente e obedece a norma culta.

A alternativa D está incorreta.  Há erro de concordância verbal, uma vez que o sujeito é “a imigração”, singular, mas o verbo está no plural: “punham”.

A alternativa E está incorreta. A expressão “dos quais” está no plural, destoando do antecedente “um dilema”, que está no singular.

Atenção: Considere o texto abaixo para responder às questões de números 7 a 10.

Todas as sociedades definem implicitamente uma legitimidade da dor que se antecipa a circunstâncias sociais, culturais ou físicas tidas como difíceis. Uma experiência acumulada do corpo leva seus membros a uma expectativa do sofrimento natural imputável a esses fatos.

A intervenção cirúrgica ou dentária, as sequelas de ferimento etc. são precedidas pelo comentário do experiente dos que já passaram pela mesma situação e se apressam em dar sua impressão ou seu conselho. O médico pode sugerir a intensidade da dor pela qual o paciente passará. Cada experiência, cada doença, cada lesão é associada a uma margem difusa de sofrimento. A sociedade indica simbolicamente os limites do lícito e, fazendo isso, esforça-se por dissuadir dos possíveis excessos. A expressão individual da dor penetra no cerne de formas ritualizadas, alimentando a expectativa de suas testemunhas.

Quando um sofrimento exibido parece desproporcional em relação à causa e ultrapassa o limite tradicional, descobre-se de complacência ou de julgamento. A reputação do ator está então em jogo. Nos casos em que é obrigatório aguentar o sofrimento com firmeza, o homem oprimido pela dor e que não corresponde à expectativa dos outros através de sua propensão à queixa e às lágrimas, expõe-se à reprovação muda ou à exortação para que se comporte melhor. Essa dissonância em relação à situação natural provoca atitudes opostas àquelas desejadas pelo doente: a compaixão dá lugar ao constrangimento ou à incompreensão.

Inversamente, quando a ritualização da dor pede a dramatização, compreende-se mal quem interioriza seu sofrimento e não diz nada a ninguém. Se a queixa tem valor de linguagem que confirma aos próximos o benefício de sua presença à cabeceira do doente, sua descrição parece negar a compaixão demonstrada em seu favor. Impenetrável apesar da dor que se supõe estar sentindo, o doente parece afirmar a insignificância daqueles que se apinham ao seu lado. Sua aparente capacidade para assumir sozinho e em silêncio sua provação frustra a família, que espera servir a queixa para prodigalizar consolo e apoio.

A dor tem ritos que não são transgredidos sem o risco de indispor ou de ofender as pessoas de boa vontade. Mesmo no horror do que está sentindo, o homem sofredor segue o caminho que as tradições lhe traçam.

(Adaptação de: LE BRETON, David. Antropologia da dor. São Paulo: FAPESP, 1999. p. 110-111)

QUESTÃO 07. De acordo com o texto,

a) a experiência do sofrimento, independentemente de sua natureza, é culturalmente regulada e, por isso mesmo, submetida a critérios éticos de valoração.

b) a ritualização da dor é uma forma de minimizá-la, tornando-a suportável em contextos de exacerbação, ou simbólica, em contextos de sofrimento psicológico, garantindo assim sua adequação social.

c) é quando se ultrapassam os limites aceitos para a expressão da dor, que ela passa a ser considerada de natureza anormal, a ponto de comparar-se a pessoa que a experimenta a um ator.

d) o sofrimento, por mais que esteja associado a limites difusos, é culturalmente ritualizado, como uma prática que transcende seus aspectos físicos, a fim de servir de parâmetro para a experiência do próximo.

e) ainda que a experiência da dor seja parte incomunicável da subjetividade de cada um, seu regramento social se mantém pela chave tanto para a prática médica, como para os cuidados familiares.

Comentários

A alternativa correta é a letra A. A questão aborda a interpretação do texto.

A alternativa A está correta.  O texto mostra que todas as sociedades definem limites simbólicos e formas ritualizadas para a manifestação da dor, o que demonstra que o sofrimento é regulado culturalmente.

A alternativa B está incorreta. Não é esse o papel da ritualização. O texto defende que o objetivo da ritualização é controlar socialmente sua expressão e preservar expectativas coletivas.

A alternativa C está incorreta. O texto não menciona que o sofrimento passa a ser considerado anormal, de modo que essa afirmação extrapola o texto, sendo que a questão não pede a inferência.

A alternativa D está incorreta. Essa alternativa extrapola o texto, pois não se afirma que o sofrimento ritualizado serve de “parâmetro” para a experiência do próximo.

A alternativa E está incorreta. A alternativa extrapola o texto extrapola ao mencionar a prática médica e os cuidados familiares como campos de aplicação direta do “regramento social da dor”.

QUESTÃO 08. Considere as seguintes afirmativas acerca da estruturação do texto.

I. O 2º parágrafo esclarece, mediante exemplos, a regra geral exposta na introdução do texto (1º parágrafo) e, com a expressão “possíveis excessos”, anuncia o assunto dos dois parágrafos seguintes.

II. Após apresentar a tese inicial e desenvolvê-la no 2º e 3º parágrafos, o termo “Inversamente”, no 4º parágrafo, introduz uma perspectiva oposta, necessária para a objeção à tese inicial, apresentada no mesmo parágrafo.

III. As hipóteses contrárias à ritualização da dor (3º e 4º parágrafos) são retomadas, ao fim, pelo segmento de valor concessivo “Mesmo no horror do que está sentindo”, mas refutadas pelo segmento seguinte “o homem sofredor segue o caminho que as tradições lhe traçam.”

Está correto o que consta de:

a) II e III apenas.

b) I, II e III.

c) II apenas.

d) I e III apenas.

e) I apenas.

Comentários

A alternativa correta é a letra E. A questão trata sobre a estruturação do texto dissertativo.

O item I está correto, uma vez que o 2º parágrafo traz exemplo do que foi dito no 1º parágrafo, veja: “A intervenção cirúrgica ou dentária, as sequelas de ferimento etc. são precedidas pelo comentário do experiente dos que já passaram pela mesma situação e se apressam em dar sua impressão ou seu conselho.” Ademais, o termo “possíveis excessos”, anuncia o tema do parágrafo seguinte, que inicia assim: “Quando um sofrimento exibido parece desproporcional em relação à causa e ultrapassa o limite tradicional, descobre-se de complacência ou de julgamento.” Por outro lado, o item II está incorreto, pois o termo “Inversamente”, no 4º parágrafo, não traz uma  perspectiva oposta, e sim complementa as ideias trazidas no texto, trazendo outra forma de julgamento social, veja: “Inversamente, quando a ritualização da dor pede a dramatização, compreende-se mal quem interioriza seu sofrimento e não diz nada a ninguém. Se a queixa tem valor de linguagem que confirma aos próximos o benefício de sua presença à cabeceira do doente, sua descrição parece negar a compaixão demonstrada em seu favor.”. Por sua vez, o item III também está incorreto, tendo em vista que o trecho “Mesmo no horror…” não retoma ou refuta hipóteses, apenas reafirma a tese de que, mesmo diante da dor extrema, as pessoas seguem as normas culturais.

QUESTÃO 09. …alimentando a expectativa de suas testemunhas. (2º parágrafo)

…à expectativa dos outros através de sua propensão à queixa e às lágrimas… (3º parágrafo)

impenetrável apesar da dor que se supõe… (4º parágrafo)

Os termos sublinhados acima referem-se no contexto, respectivamente, a:

a) formas ritualizadas – dor – doente

b) expressão individual da dor – homem – doente

c) formas ritualizadas – dor – queixa

d) formas ritualizadas – homem – queixa

e) expressão individual da dor – dor – queixa

Comentários

A alternativa correta é a letra B. A questão trata sobre referenciação no texto.

No primeiro trecho, “suas” se refere a “expressão individual da dor” no 2º parágrafo, veja: “A expressão individual da dor penetra no cerne de formas ritualizadas, alimentando a expectativa de suas testemunhas.”. No segundo trecho, “sua” se refere a “homem” no 3º parágrafo, observe: “Nos casos em que é obrigatório aguentar o sofrimento com firmeza, o homem oprimido pela dor e que não corresponde à expectativa dos outros através de sua propensão à queixa e às lágrimas, expõe-se à reprovação muda ou à exortação para que se comporte melhor.” Por sua vez, no terceiro trecho “impenetrável” se refere a “doente” no 4º parágrafo, a seguir: “Impenetrável apesar da dor que se supõe estar sentindo, o doente parece afirmar a insignificância daqueles que se apinham ao seu lado.”

QUESTÃO 10. Se a queixa tem valor de linguagem que confirma aos próximos o benefício de sua presença à cabeceira do doente, sua descrição parece negar a compaixão demonstrada em seu favor.

Uma redação alternativa para a frase acima, que mantém a coerência e, em linhas gerais, seu sentido, encontra-se em:

a) Uma vez que se exima de queixar-se, o silêncio do doente passa a desempenhar o papel de linguagem que assevera o conforto a ele dispensado pela presença dos que lhe são próximos.

b) Caso o lamento seja válido como linguagem que assevere o bem proporcionado pelos que estão junto ao doente, seu comportamento será avesso à compaixão que lhe oferecem.

c) O doente, ao abster-se do lamento, que discursivamente valida o benefício proporcionado pelos que estão ao pé de seu leito, parece rejeitar a compaixão que lhe demonstram.

d) A queixa do doente, desde que passe a ter um valor discursivo, confirma seu apreço pelos familiares; caso contrário, volta-se contra suas demonstrações de compaixão.

e) O discernimento do doente, em termos discursivos, no momento de compaixão demonstrada em prol de sua situação, assevera o benefício do acolhimento das pessoas próximas.

Comentários

A alternativa correta é a letra C. A questão trata sobre

A alternativa A está incorreta. Há uma contradição com o trecho, uma vez que o silêncio não é visto como linguagem que valida o benefício, pelo contrário, o silêncio nega essa compaixão.

A alternativa B está incorreta. O trecho “caso o lamento seja válido… o comportamento será avesso à compaixão” não faz sentido dentro da lógica do texto, pois, na verdade, o lamento valida a compaixão.

A alternativa C está correta. A frase mantém o sentido original e a coerência.

A alternativa D está incorreta. O trecho do enunciado não fala da queixa ter como objetivo demonstrar apreço pelos familiares.

A alternativa E está incorreta. O trecho do enunciado não fala do discernimento do doente, sendo que a alternativa não mantém a coerência.

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