- A relação entre democracia e capitalismo foi sempre uma relação tensa, se não mesmo de contradição. O
- capitalismo só se sente seguro se governado por quem tem capital ou se identifica com as suas "necessidades",
- enquanto a democracia é o governo das maiorias que nem têm capital nem razões para se identificar com as
- "necessidades" do capitalismo, bem pelo contrário. O conflito é distributivo: a ________ para a acumulação e
- concentração da riqueza por parte dos capitalistas e a ________ da redistribuição da riqueza por parte dos
- trabalhadores e suas famílias. A burguesia teve sempre pavor de que as maiorias pobres tomassem o poder e
- usou o poder político que as revoluções do século XIX lhe concederam para impedir que tal ocorresse.
- Concebeu a democracia liberal de modo a garantir isso mesmo, através de medidas que mudaram no tempo,
- mas mantiveram o objetivo: restrições ao sufrágio, primazia absoluta do direito de propriedade individual,
- sistema político e eleitoral com múltiplas válvulas de segurança, repressão violenta de atividade política fora das
- instituições, corrupção dos políticos, legalização dos lóbis.
- No imediato pós-guerra, muito poucos países tinham democracia, vastas regiões do mundo estavam sujeitas
- ao colonialismo europeu que servira para consolidar o capitalismo euro-norte-americano, a Europa encontrava-se
- devastada por mais uma guerra provocada pela supremacia alemã, e, no Leste, consolidava-se o regime
- comunista que se via como alternativa ao capitalismo e à democracia liberal. Foi neste contexto que surgiu o
- chamado capitalismo democrático, um sistema assente na ideia de que, para ser compatível com a democracia,
- o capitalismo deveria ser fortemente regulado, o que implicava a nacionalização de setores importantes da
- economia, a tributação progressiva, a imposição da negociação coletiva e até, como aconteceu na então
- Alemanha Ocidental, a participação dos trabalhadores na gestão das empresas. No plano científico, Keynes
- representava, então, a tradição econômica, e Hayek, a _________ . No plano político, os direitos econômicos e
- sociais foram o instrumento privilegiado para estabilizar as expectativas dos cidadãos e defendê-las das
- flutuações constantes e imprevisíveis dos "sinais dos mercados". Esta mudança alterava os termos do conflito
- distributivo, mas não o eliminava. ........, tinha todas as condições para acirrá-lo logo que abrandasse o
- crescimento econômico, o que se registrou nas três décadas seguintes. E assim sucedeu.
- Desde 1970, os Estados centrais têm vindo a gerir o conflito entre as exigências dos cidadãos e as exigências
- do capital, recorrendo a um conjunto de soluções que gradualmente foram dando mais poder ao capital.
- Primeiro, foi a inflação, depois, a luta contra a inflação acompanhada do aumento do desemprego e do ataque
- ao poder dos sindicatos, a seguir, o endividamento do Estado em resultado da luta do capital contra a
- tributação, da estagnação econômica e do aumento das despesas sociais decorrentes do aumento do
- desemprego e, finalmente, o endividamento das famílias, seduzidas pelas facilidades de crédito concedidas por
- um setor financeiro livre de regulações estatais, para iludir o colapso das expectativas a respeito do consumo,
- educação e habitação.
- Até que a engenharia das soluções fictícias chegou ao fim, com a crise de 2008, e se tornou claro quem
- tinha ganho o conflito distributivo: o capital. Prova disso: o disparar das desigualdades sociais e o assalto final
- às expectativas de vida digna da maioria (os cidadãos) para garantir as expectativas de rentabilidade da minoria
- (o capital financeiro). A democracia perdeu a batalha, mas só não perderá a guerra se as maiorias perderem o
- medo e forçarem o capital a voltar a ter medo, como sucedeu há 60 anos.
Adaptado de: SANTOS, B. S. Democracia ou capitalismo?. Disponível em: < http://visao.sapo.pt/boaventura-sousasantos=s23499#ixzz3BLyLZ6xe>. Acesso em: 28 de junho de 2014
Considere o enunciado abaixo e as três propostas para completá-lo.
Sem prejuízo da correção gramatical e do significado contextual, é possível substituir
1. têm vindo (l. 25) por vêm.
2. foram dando (l. 26) por dariam.
3. tinha ganho (l. 34) por tinha ganhado.
Quais propostas estão corretas?