01 Noutros tempos, para João Eduardo, o dinheiro tinha o valor do esforço, sabia-lhe a uma tradução imediata 02 sua perseverança. Media-o ainda pelos sacrifícios de quem lhe entregava e por uma crescente se- 03 gurança no caminho do futuro. Libertava-o de uma espécie de terror. Mas o dinheiro por fim, deixa- 04 ra de lhe importar, precisamente porque não era obrigado a pensar nele. O motivo de sua sofregui- 05 dão era outro. Continuava ___________ de tarefas, de clientes, por lhe ser muito mais difícil recuar do 06 que manter essa _______. Sabia que o cercava uma gulosa espionagem: não lhe poupariam o mais 07 breve sinal de renúncia ou de fracasso. O triunfo escravizava. O triunfo tinha um preço. Era o seu 08 crime perante todos os que rodeavam-no. Os que haviam acompanhado desde o primeiro dia, 09 dantes generosos e solidários, espreitavam no agora de caninos arreganhados: estamos à espera 10 que tropeces. Os vitoriosos não podem tropeçar. 11 Era justamente por isso que andava ..... nervos tensos. (...) A tal luta cobarde ..... que as embosca- 12 das, se sucedem. Era isso que odiava na sua profissão! Todos os dias se pisava um terreno ___________ 13 por debaixo do qual poderia ocultar-se indiferentemente um pântano ou rocha firme. De cada vez 14 que deixava um imprevisto arrumado, um maçador convencido, um doente salvo do perigo, à vasta 15 sensação de alívio juntava-se sempre ..... convicção de que nunca mais esses dissabores ou angústias 16 se repetiriam. Como se, enfim, fosse dormir e trabalhar tranquilamente o resto da vida, com horas 17 livres, sedimentadas, sem aqueles sobressaltos que lhe revolviam todos os instantes da existência. 18 Mas logo se levantava uma surpresa ainda mais desgastadora. (...)