Países que têm contas a acertar com ditaduras que se desfazem, ou com inimigos derrotados em guerra, têm à sua escolha dois, e só dois, caminhos. Ou julgam e punem imediatamente os condenados por crimes cometidos durante a ditadura ou a guerra – e, tendo feito isso, encerram o assunto de uma vez por todas. Ou, então, não agem na hora, por não terem a força indispensável para punir, ou porque preferem deixar as decisões para depois – e, nesse caso, não acertam as contas nunca mais. O Brasil de hoje, com sua Comissão Nacional da Verdade, imagina que pode descobrir uma terceira via. Ao fim da ditadura militar, nada foi feito pelos novos governantes para julgar delitos cometidos pelo regime – dentro do entendimento de que a melhor solução era adotar uma anistia mútua. Era, também, a única solução possível na vida real, levando-se em conta que os militares tinham saído do governo, mas não tinham saído do Brasil. Desde então, para efeitos práticos, a coisa toda acabou no arquivo morto. Agora, quarenta anos depois dos fatos que se deseja esclarecer, montou- -se essa comissão para consertar o que nunca foi consertado.
(J. R. Guzzo, Quarenta anos depois. Veja 04.07.2012)
Na passagem – nesse caso, não acertam as contas nunca mais – a expressão destacada faz referência à situação em que