Questão
2014
COPS UEL
Prefeitura Municipal de Rolândia (PR)
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ISTOÉ – O Sr. aponta outra maneira de tratar a depressão que não seja com remédios?

JONATHAN ROTTENBERG – Não vou dizer a ninguém para não usar as ferramentas disponíveis, e isso inclui remédios. O problema é que os medicamentos não são tão eficazes quanto se imagina. Para alguns pacientes, há bons resultados. Os sintomas da depressão desaparecem em cerca de um terço das pessoas que passam pelo tratamento com remédios. Porém, há dois terços que não se beneficiam. É preciso olhar melhor para o que faz o humor mudar. Usar medicamentos está entre as soluções, mas há outras coisas que podem ser feitas.

ISTOÉ – Como o quê?

JONATHAN ROTTENBERG – Acredito que tem muito a ver com a mudança na rotina e o tipo de vida que cada um leva. A maioria das pessoas não toma sol, por exemplo. É só luz artificial, por causa da vida nas cidades. É a televisão, o computador... As mudanças podem ser feitas examinando a rotina. E há essa necessidade de procurarmos a felicidade e estarmos animados constantemente. Se a pessoa se sente um pouco desanimada, já entra em pânico e pensa: “O que está errado comigo? Por que não estou feliz como deveria ou feliz como as outras pessoas?” Acho que, quando alguém se debate sobre quão feliz está, quanto mais quer se sentir melhor, pior fica. E essa intolerância à tristeza é muito clara nos Estados Unidos e em outros lugares do mundo.

ISTOÉ – Essa busca pela felicidade seria um dos motivos para estarem aumentando os casos de depressão?

JONATHAN ROTTENBERG – Sim, justamente porque estamos menos tolerantes ao humor deprimido. Ele ocorre, sempre vai ocorrer. E a busca pela felicidade nos torna depressivos. A felicidade acontece quando não estamos atrás dela. As pessoas estão infelizes e colocam a felicidade como um objetivo, quando ela não é. É um efeito colateral. Culturalmente aprendemos que devemos alcançar a felicidade, mas esse é um jeito perigoso de viver.

ISTOÉ – Então, ter como objetivo uma vida feliz pode ser pior?

JONATHAN ROTTENBERG – Sim. Quando há uma pessoa em meio a uma depressão, a pior coisa a se dizer é: “Por que você não se anima?” ou “Por que não faz algo divertido?”. Obviamente, ela já tentou fazer isso. Parte do processo é aceitar esse humor depressivo, pensar o que ele significa e tentar entender o que ele está lhe dizendo.

ISTOÉ – De onde vem essa necessidade de buscarmos a felicidade?

JONATHAN ROTTENBERG – É um fenômeno cultural. Vem dos livros, da tevê, e muitas vezes é bem intencionado. Fica muito claro para as pessoas como elas devem agir e o que devem sentir. É uma cultura tão forte que nem pensamos sobre. Os pais dizem aos filhos que eles podem fazer qualquer coisa. Mas há situações em que você vai se dedicar muito a algo e aquilo não vai dar certo. Nesse caso, a pessoa pode entrar em depressão e acaba ficando ainda pior por não encontrar outro objetivo.

ISTOÉ – No caso dos pais, como o Sr. acha que eles deveriam lidar com essas situações, para não estimular casos de depressão?

JONATHAN ROTTENBERG – Eles devem mostrar a diversidade de objetivos que podemos ter na vida. Uma das coisas que me fez estudar a depressão é que eu passei por um quadro depressivo quando era mais novo. Tinha somente um objetivo na vida e, quando aquilo começou a não dar certo, tudo pareceu ruir. Os pais podem mostrar aos filhos as várias maneiras de se viver em sociedade. Você pode ter um relacionamento, filhos, amigos, carreira, hobbies, fazer trabalho voluntário. Mas, com muita frequência, temos somente um objetivo. Você coloca toda a expectativa em um mesmo lugar e é preciso ter cuidado. Por isso, é importante pensar sobre as situações em vez de só tomar pílulas o tempo todo. É como se o humor fosse um despertador: quando ele muda, precisamos parar para pensar no que está acontecendo em nossa vida.

ISTOÉ – O Sr. acredita que livros de autoajuda, que tentam fazer com que as pessoas saiam sozinhas da tristeza, de fato ajudam?

JONATHAN ROTTENBERG – Acho que as pessoas não vão ficar felizes só por lerem um livro. Há um processo muito mais complexo. Muitos dos livros prometem resultados instantâneos, é só observar os títulos. Isso faz as pessoas se frustrarem, pois não chegam a esses resultados. O ponto é: não se podem mudar certos temperamentos, mas é importante reconhecer o que é possível e o que não é possível transformar.

ISTOÉ – Recentemente, saiu uma pesquisa no Brasil mostrando que 21% dos jovens têm sintomas de depressão. Qual é a opinião do Sr. sobre isso? É um dado alarmante?

JONATHAN ROTTENBERG – A depressão é mais comum em pessoas mais novas. Elas precisam lidar com muitas expectativas, próprias e dos outros. É uma das razões para encararmos esse problema com seriedade. Historicamente, as pessoas entram em depressão geralmente entre os 16, 17 anos de idade. Acho que o número é, sim, alto, e precisa ser revertido.

(BRANDALISE, C. A busca pela felicidade nos deixa depressivos. IstoÉ. n.2317. p.8-10.)

Sobre a relação entre a terceira e a quinta pergunta do entrevistador, assinale a alternativa correta.
A
A terceira pergunta aborda os efeitos da busca pela felicidade sobre a depressão, enquanto a quinta explora a origem da busca pela felicidade.
B
A terceira pergunta examina a busca pela felicidade e suas causas, enquanto a quinta questiona as consequências do fenômeno.
C
A terceira pergunta, ao contrário da quinta, evidencia a fragilidade dos nexos entre busca pela felicidade e aumento dos casos de depressão.
D
A terceira pergunta, ao contrário da quinta, parte do pressuposto de que a busca pela felicidade é uma falácia criada pelo entrevistado.
E
Ambas investigam se, de fato, procede a existência da busca da felicidade como fenômeno coletivo contemporâneo.